Como estão as crianças com TEA nessa pandemia e o que podemos repensar?

18/05/2021

Em março de 2020, a organização Mundial de Saúde caracterizou o surto da COVID-19 como uma pandemia, e o mundo passou a tomar medidas sanitárias e de distanciamento social para prevenção, controle e mitigação dessa problemática. Medidas drásticas de isolamento e distanciamento social foram tomadas para proteção e salvamento de vidas.

A pandemia promoveu novas rotinas e modos de vida, modificando a sociabilidade, restringindo a forma de interação, tornando o ambiente familiar a célula principal do confinamento e com novas ações educativas. O computador foi liberado, os jogos, um passatempo que causava desavenças e isolamento entre pais e crianças precisou ser repensado como funcional, a partir desta nova perspectiva.

Se todas as crianças tiveram suas rotinas modificadas, imagine como ficaram as crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que, quando sofrem uma mudança repentina, sem anúncio anterior, entram em crise, gerando maior estresse no entorno familiar, revelando as dificuldades de lidar com essa situação e a necessidade que ainda temos de elaboração de trabalhos com essas famílias.  

Além disso, a pandemia provocou a todos novos hábitos de higienização e costumes. Não podemos sair sem o uso de máscara e não podemos ficar sem higienizar nossas mãos e utensílios. O que cabe pensar, como será que as crianças com TEA compreenderam esses novos hábitos?

Crianças com autismo, em estado grave ou que ainda tem muitos prejuízos de perceber o que está acontecendo, não entenderam o porquê de um dia para o outro, tiveram as suas rotinas retiradas e em casa estão até os dias atuais. Quando conseguem sair, a imposição do uso de uma máscara é colocada, máscara um objeto que abafa a boca e serve para quê?

O TEA é um transtorno que afeta o desenvolvimento de uma criança, desde os seus 03 primeiros anos de vida, comprometendo a comunicação, coordenação motora, socialização, afetando funções como atenção e causando hiperatividade. Os prejuízos mais significativos serão na aprendizagem e interação social. Assim, podemos compreender que, uma criança com TEA pode falar, mas não de maneira efetiva para se comunicar ou compreender totalmente o outro e, como efeito, ela se isola.

Relembrando que ações e diversos trabalhos foram realizados para que escola e tratamentos não parassem, e a saída principal foi a do ensino a distância e do atendimento online, incorporado por diversas instituições. Nesta modalidade, muitas vezes a presença de um acompanhante adulto se faz necessária, como mediação entre a criança e o professor (ou terapeuta) do outro lado da tela. Esta modalidade pode se mostrar eficaz em várias circunstâncias, mas em algumas merece maior atenção.

As crianças com TEA, por exemplo, necessitam de maior mediação para a aprendizagem e, durante a pandemia, quem representou este papel junto às escolas e às terapias acabou sendo a família. Em muitos casos causou-se um aumento do nível de estresse e elevada preocupação, pois pais não são terapeutas nem professores, e isso esbarra no afastamento e distanciamento do interesse em dar continuidade com as atividades online.  

A inclusão se caracteriza pelo conjunto de medidas direcionadas ao indivíduo que está excluído do meio social. Nesse momento, não podemos deixar de pensar que a pandemia é o que mais nos preocupa, pois, a contaminação é um risco de vida. No entanto, como faremos com essas crianças, que já têm como características o isolamento e embotamento afetivo? De certa forma, a pandemia está provocando o agravamento do prejuízo social nos casos onde ele já se fazia presente.

Desta forma, julga-se necessário que, quando tivermos a oportunidade de retornarmos às escolas e aos atendimentos presencias, que seja refeita a (re)inclusão dessa criança. Se ela não usar máscara, por não entender a necessidade, ajude-a a compreender.  A interlocução com a família e os demais envolvidos neste processo precisa ser acolhida, compreendida e manejada, considerando a singularidade de cada criança, pois uma medida não pode esbarrar em exclusão ou desenvolvimento de novos sintomas.

Telma Rodrigues

Psicóloga da Unidade Clínica da Ame

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