De Robocop a hemicorporectomia: a evolução da reabilitação no século 21

De Robocop a hemicorporectomia: a evolução da reabilitação no século 21

Por Linamara Rizzo Battistella*

Em 1987, um personagem fictício americano nos encantou com suas características meio humanas, meio máquina. “Robocop, o policial do Futuro” nos intrigava com sua voz metalizada e aparência robotizada, apesar da humanização no rosto e nos sentimentos. Um pouco antes, em meados de 1970, outro personagem fictício, Cyborg, homem biônico de “seis milhões de dólares”, foi beneficiado com uma cirurgia experimental que custou seis milhões de dólares e teve seu braço direito, suas pernas e seu olho esquerdo destroçados e substituídos por implantes chamados, à época, de “biônicos”. Com isso, o personagem passou a ter sua força, corrida e visão ampliadas.

Na esteira dos super-poderes, alguns estúdios cinematográficos americanos deram vida a diversos personagens dos quadrinhos, que preencheram nosso imaginário infantil, com super-heróis, meio humanos, meio poderosos, na luta contra o mal.

Enquanto isso, na vida real, a medicina vem avançando na luta contra a morte e minimizando os efeitos do mal, que pode ser equiparado à perda de movimentos e funcionalidade. Em 1961, tivemos o primeiro caso de hemicorporectomia realizado com sucesso, acompanhado pela Medicina Física e Reabilitação. 

A hemicorporectomia é a amputação translombar, um procedimento indicado para salvar alguém em grave sofrimento e risco de morte, em que a coluna vertebral, medula espinhal lombar, conteúdo pélvico, extremidades inferiores e genitália externa são removidos cirurgicamente. 

Na hemicorporectomia, a vontade de viver supera a transformação do corpo e o desafiador processo de reabilitação é priorizado, a fim de alcançarmos os resultados propostos. E o mais importante, o paciente participa das decisões de todas as etapas que antecedem o procedimento, recebendo orientações sobre o uso de cadeira de rodas ou próteses. Escrevi, com outros médicos e técnicos em Fisiatria, um artigo científico detalhando a hemicorporectomia, realizada recentemente pelo Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas de São Paulo (IMREA HC FMUSP) que pode ser conferido nesse link: https://bit.ly/2T7mvYY

* *A Prof. Dra. Linamara Rizzo Battistella é médica fisiatra e professora titular de Medicina Física e Reabilitação na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Presidente do Conselho Diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do HCFMUSP e Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, e Co-Coordenadora do Grupo de Desenvolvimento das Diretrizes de Reabilitação Relacionada à Saúde da OMS/WHO, desde 2012. Presidente da Associação Paulista de Medicina Física e Reabilitação, Coordenadora do Programa de Residência em Medicina Física e Reabilitação da FMUSP e Membro da Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NAM)

Americanas adota ICOM em site e app abrindo conexão direta com os surdos

Americanas adota ICOM em site e app abrindo conexão direta com os surdos

A Americanas expande sua lista de recursos de acessibilidade e inclusão, implantando a ferramenta ICOM para facilitar a comunicação com clientes deficientes auditivos e surdos. A partir de agora, o atendimento do SAC no site e no app da marca passa a contar com o serviço do ICOM, a plataforma de tradução simultânea de Libras on-line, que permite a conversa em tempo real entre surdos e ouvintes, com intermédio de um tradutor. Somando-se às demais soluções de acessibilidade disponíveis na plataforma digital da Americanas, o serviço está em linha com a estratégia da marca de oferecer um ambiente mais inclusivo para seus clientes.

Além desse novo recurso, a Americanas trabalha para melhorar a experiência das iniciativas já existentes, como o Hugo (hand talk), tradutor digital e simultâneo de Libras que torna a navegação mais acessível, e o pacote Essential Accessibility, que permite substituir o teclado e habilitar o controle por gestos. 

Conhecida por oferecer tudo o que os clientes precisam, para todos os tipos de público, a Americanas busca oferecer uma plataforma ainda mais inclusiva e com soluções efetivas para atender todo tipo de cliente, seja qual for sua necessidade. 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) no último ano apontam mais de 10 milhões de pessoas com algum problema relacionado à deficiência auditiva no Brasil. Desse total, 2,7 milhões são considerados surdos, ou seja, incapazes de ouvir qualquer tipo de som.  

“Ao atender o consumidor surdo em seu idioma, a língua brasileira de sinais, entendemos que a Americanas dá um passo importante na promoção da cidadania e da inclusão. Com a parceria com o ICOM, a marca passa a oferecer uma experiência de comunicação ágil e eficiente entre surdos e ouvintes, melhorando seus serviços e gerando mais negócios”, diz Cid Torquato, diretor executivo do ICOM. 

A interação é totalmente online e ocorre de maneira simples e direta. Basta se conectar à plataforma ICOM pelo app ou site da Americanas e iniciar uma videochamada para que o intérprete faça a triangulação do atendimento. Com tradutores disponíveis durante todo o horário de atendimento do SAC (de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, e aos sábados, das 8h às 18h), o tempo máximo de espera gira em torno de 90 segundos.  

Além do atendimento externo, o ICOM já atende mais de 100 funcionários surdos nas demandas de RH de centros de distribuição da Americanas. 

Como a linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência

Como a linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência

Um artigo recente da romancista e ativista pelos direitos dos surdos, a norte-americana Sara Novic, publicado originalmente no site BBC Worklife, aborda a questão do capacitismo em nossa sociedade, com importantes insights a respeito do que podemos fazer para combater o problema.

Leia a seguir (para acessar a versão original desta reportagem, em inglês, clique aqui). 

“Gosto de ser surda. Gosto do silêncio, assim como da rica cultura e da língua que a surdez me proporciona. Quando vejo a palavra ‘surdo’ publicada, me vem à tona um sentimento de orgulho pela minha comunidade. É algo que fala comigo, como se eu estivesse sendo abordada diretamente, como se chamassem meu nome. Então, sempre dói quando sou lembrada de que, para muitos, a palavra ‘surdo’ tem pouco a ver com o que eu mais amo — na verdade, suas conotações são quase sempre negativas. Por exemplo, na imprensa do mundo todo não é raro ler que determinado governo ou autoridade “se fez de surdo”. Este tipo de linguagem “capacitista” (que discrimina pessoas com deficiência) é onipresente em bate-papos. Perguntar se alguém “está cego” porque não viu algo, dizer que “deu uma de João sem braço” ou que fulano tem “problema mental” para ofender, chamar um chefe de “psicopata” ou “bipolar”, falar para alguém “deixar de ser retardado” — são apenas alguns exemplos. E, na maioria das vezes, as pessoas que proferem essas frases não têm a intenção de machucar ninguém — em geral, elas não têm a menor ideia de que estão fazendo algo nocivo.

No entanto, para pessoas com deficiência como eu, essas expressões comuns podem ser microagressões. Por exemplo, “se fazer de surdo” mostra que a maioria das pessoas associa a surdez com a ignorância intencional (mesmo que não seja conscientemente). Porém, muito mais do que insultos isolados, expressões como essas podem causar danos reais e duradouros às pessoas que se sentem desconsideradas por essas palavras e expressões — e até mesmo para quem as utiliza em conversas diárias.

Sara Novic discute o processo da escrita com alunos da Rocky Mountain Deaf School no Colorado, nos EUA

Não é um problema pequeno

Cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo — 15% da população global — tem algum tipo de deficiência documentada. No Brasil, segundo o Censo 2010 do IBGE, quase um quarto da população declarou ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus) ou possuir deficiência mental/intelectual. A incidência é semelhante nos EUA e no Reino Unido. Apesar desses números, as pessoas com deficiência sofrem discriminação generalizada em quase todos os níveis da sociedade. Esse fenômeno, conhecido como ‘capacitismo’, pode assumir várias formas. O capacitismo pessoal pode ser um xingamento ou ato de violência contra uma pessoa com deficiência, enquanto o capacitismo sistêmico se refere à desigualdade que as pessoas com deficiência vivenciam como resultado de leis e políticas. Mas o capacitismo também pode ser indireto, até mesmo não intencional, na forma de microagressões linguísticas. Por mais que a gente goste de pensar que é cuidadoso na hora de escolher as palavras, o capacitismo linguístico está difundido no nosso vocabulário. Os exemplos estão por toda parte na cultura popular, e provavelmente você mesmo já usou algumas expressões. Muitas vezes, o capacitismo linguístico surge nas gírias que usamos, como falar para alguém “deixar de ser retardado” ou dizer que “fulano tem TOC” (transtorno obsessivo-compulsivo).

Embora possam parecer insultos ou exclamações casuais, ainda assim causam danos. Jamie Hale, CEO da Pathfinders Neuromuscular Alliance, instituição de caridade do Reino Unido voltada e dirigida por pessoas com doenças neuromusculares, observa que o potencial de dano existe mesmo se as palavras não forem usadas contra uma pessoa com deficiência especificamente. “Há uma sensação de que, quando as pessoas usam a linguagem capacitista, estão buscando maneiras de inferiorizar”, diz Hale. “Muitas vezes não é uma tentativa consciente de prejudicar as pessoas com deficiência, mas ajuda a construir uma visão de mundo na qual ser uma pessoa com deficiência é [negativo].”

Usar uma linguagem que equipara a deficiência a algo negativo pode ser problemático de várias maneiras. Em primeiro lugar, essas palavras oferecem uma imagem imprecisa do que realmente significa ser deficiente. “Descrever alguém como ‘aleijado’, ‘incapacitado’ é dizer que ele está ‘limitado’ [ou] talvez ‘aprisionado`. Mas não é assim que eu me sinto”, afirma Hale. Usar a deficiência como metáfora também é uma forma imprecisa de expressar o que realmente queremos dizer. A frase ‘se fazer de surdo’, por exemplo, perpetua estereótipos e, ao mesmo tempo, mascara a realidade da situação que descreve. Ser surdo é um estado involuntário, ao passo que as pessoas que “se fazem de surdas” diante de determinados apelos estão fazendo uma escolha consciente de ignorar essas solicitações. Rotulá-las como ‘surdas’ as enquadra como passivas, ao invés de pessoas ativamente responsáveis ​​por suas próprias decisões. Hale acrescenta que usar a deficiência para designar algo negativo ou inferior reforça atitudes e ações negativas e alimenta os sistemas mais amplos de opressão existentes. “Construímos um mundo com a linguagem que usamos e, enquanto nos sentirmos confortáveis ​​com essa linguagem, continuaremos a construir e reforçar estruturas capacitistas”, diz.

O que isso quer dizer?

Se o capacitismo linguístico é tão prejudicial, por que é tão comum? Por que alguém que nunca insultaria propositalmente uma pessoa com deficiência diretamente ainda encontra expressões capacitistas em seu vocabulário? O capacitismo linguístico, como o coloquialismo, funciona como qualquer outra gíria: as pessoas a repetem porque ouvem outras dizerem, uma imitação que aparentemente sugere um uso sem discernimento. Porém, de acordo com DW Maurer, professor de linguística da Universidade de Louisville, nos EUA, embora qualquer pessoa possa criar uma gíria, a expressão só “ganhará popularidade conforme a unanimidade de atitude dentro do grupo”. Isso sugere que os jargões capacitistas são onipresentes porque, em algum nível, aqueles que falam acreditam que seja verdade.

É possível que as pessoas realmente não tenham consciência desses preconceitos dentro de si mesmas, tampouco do capacitismo que expressam no dia a dia. Mas o fato é que as discussões sobre o efeito negativo de palavras como “surdo-mudo”, por exemplo, vêm acontecendo em círculos de pessoas surdas e com deficiência há séculos. De acordo com Rosa Lee Timm, chefe de marketing da organização sem fins lucrativos Communication Service for the Deaf, em Maryland, nos EUA, essas discussões passaram batido pela maior parte da sociedade porque as pessoas sem deficiência acreditam que o capacitismo não as afeta, e a linguagem capacitista perpetua e justifica essa crença. “A linguagem capacitista incentiva uma cultura de segregação. Ela define, exclui e marginaliza as pessoas”, explica Timm.

Efeito bumerangue

Embora essas palavras e expressões sejam obviamente prejudiciais aos grupos que marginalizam, as pessoas sem deficiência que casualmente usam a linguagem capacitista podem estar impactando negativamente a si mesmas. “O que vai acontecer com esse grupo de pessoas sem deficiência quando mais tarde na vida — seja por uma perda auditiva, um acidente, um problema de saúde, o próprio envelhecimento ou qualquer outra coisa —, eles passarem para a comunidade com deficiência?”, questiona Timm. “A linguagem capacitista que eles usaram cria um ambiente opressor.”

Timm observa que esse ‘ambiente’ inclui um impacto na própria autoestima. “Os padrões de beleza são uma boa comparação, em termos do poder psicológico da linguagem”, diz ela. “Como mãe, se eu digo, ‘uau, isso é lindo’ ou ‘isso é feio’, meus filhos observam e internalizam… Isso pode ter um impacto profundo, especialmente se eles olharem para si mesmos e sentirem que não correspondem aos padrões… O mesmo vale para habilidades.”

Hale também acredita que as pessoas sem deficiência que vivenciarem a deficiência mais tarde na vida serão prejudicadas pela retórica que usam hoje. E observa que a natureza divisiva do capacitismo linguístico pode até ter um impacto negativo sobre as pessoas que nunca vão ter deficiência. “Machuca a todos nós quando desumanizamos formas de ser, e as construímos totalmente no negativo”, afirma.

Desconstruindo estruturas capacitistas

Dado o quão arraigado é o capacitismo em nossa sociedade, erradicá-lo pode parecer uma tarefa árdua. Estar ciente das palavras que você usa no dia a dia é uma etapa necessária no processo. “Desmantelar estruturas capacitistas não começa com a linguagem, mas construir um mundo sem elas requer que mudemos nossa linguagem”, diz Hale. Analisar as próprias expressões e tentar substituí-las por sinônimos menos problemáticos é um bom começo. “Pense no que você quer dizer. Não repita uma expressão apenas porque a ouviu, pense no que você está tentando transmitir”, sugere Hale. Muitas vezes, evitar eufemismos capacitistas significa apenas escolher uma linguagem mais direta e literal — ao invés de dizer que fulano “se fez de surdo”, você poderia falar que ele “ignorou” ou “decidiu não se envolver”.

A linguagem está em constante mudança, portanto, eliminar o capacitismo do seu vocabulário será um processo contínuo, e não algo pontual. Você pode tropeçar no início, mas conversar com pessoas com deficiência é uma maneira eficaz de encontrar o equilíbrio e continuar a construir um vocabulário mais inclusivo. “Meu conselho é sempre ouvir”, diz Timm. “Faça perguntas, evite suposições e comece escutando as pessoas que são mais impactadas. Reflita se a sua escolha de palavras está contribuindo para a opressão delas.”

Pode parecer desconfortável, mas o desconforto e a vulnerabilidade exigem introspecção, o que Hale aponta como chave para desmantelar atitudes capacitistas. “De acordo com a Scope [instituição voltada para deficiência e igualdade], dois terços da população britânica se sentem desconfortáveis ao falar com uma pessoa com deficiência”, afirma Hale. “Por quê? Se você conseguir entender por que se sente desconfortável, você está no caminho certo para mudar isso.”

Grupos recorrem ao STF contra classificação de visão monocular como deficiência

Grupos recorrem ao STF contra classificação de visão monocular como deficiência

Entidades ligadas a grupos de defesa de pessoas com deficiência acionaram o STF contra a lei sancionada em março por Bolsonaro que prevê a classificação automática como deficientes das pessoas que são cegas de um olho, condição chamada de visão monocular. A ação direta de inconstitucionalidade foi protocolada recentemente pela Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais, pela Organização Nacional dos Cegos do Brasil e pelo Comitê Brasileiro de Organizações Representativas das Pessoas Deficiência.

O argumento é que a lei, entre outras coisas, fere o preconizado pela Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, da qual o Brasil é signatário e que sugere uma avaliação contextual prévia em casos do tipo com o intuito de se determinar a extensão da limitação da pessoa que apresente deficiência visual em apenas um dos olhos.

As entidades que por trás da iniciativa também chamam a atenção para a questão da perda fiscal embutida na medida. Um estudo da Receita Federal anexado ao processo mostra que a lei gerará renúncias fiscais de 19,6 bilhões de reais até 2023.  O motivo é que pessoas com deficiência têm desconto em imposto de renda e também de tributos como IPI para compra de automóveis e IOF para financiamento automotivo. O ministro Nunes Marques é o relator da ação, assinada pelo advogado Paulo Liporaci.

Perspectivas atuais do envelhecimento

Perspectivas atuais do envelhecimento

Sabemos que o mundo está envelhecendo rapidamente. Em dados globais, a Organização Mundial da Saúde estima que em 2050 o número de pessoas com mais de 60 anos poderá alcançar os 22%, chegando a 90 milhões de pessoas no Brasil.

Esses dados nos fazem refletir sobre os desafios que temos pela frente e quais recursos disponibilizamos para dar as respostas para o envelhecimento da população. 

O conceito de envelhecimento ativo sugere uma perspetiva positiva, compreendendo uma vida longa. Para a Organização Mundial da Saúde, envelhecimento ativo é o “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. (OMS, 2002)

Sabemos que, somados ao envelhecimento da população, estão ocorrendo grandes mudanças sociais que podem significar uma forma de envelhecer diferente das experiências de gerações anteriores. À medida que ficam mais velhas, as pessoas têm necessidade de viver em ambientes que lhes proporcionem o suporte necessário para compensar as mudanças associadas ao envelhecimento, algumas delas sinônimo de perda de capacidades, implicando na necessidade de adaptação do ambiente físico e social à vida cotidiana.

O conceito do Ageing in place é a política emergente que focaliza essa discussão na compreensão das mudanças que ocorrem no envelhecimento e no seu ambiente envolvente, elegendo a manutenção da pessoa no seu meio natural como meio preferencial de vida (Pynoos et al. 2012a). 

A criação e manutenção de ambientes favoráveis e facilitadores do envelhecimento é uma tarefa indispensável para a promoção do bem-estar das pessoas idosas e para que elas possam continuar a ser, pelo maior tempo possível, autônomas e socialmente relevantes. 

Milligan (2009) defende que a vida independente contribui para manter um sentido de autoconfiança, autocontrole e autoestima positivo, fazendo com que os idosos possam viver de forma independente desde que a sua situação de saúde permita e que disponham de uma residência e de apoio social adequados.

A valorização de respostas de Ageing in place significa responder às necessidades de assistência a partir do contexto onde a pessoa vive, procurando respostas articuladas através de uma integração progressivamente mais ampliada de serviços. Isto significa não retirar a pessoa do local onde ela vive para lhe proporcionar o que ela necessita, mas criar condições para que as suas necessidades sejam satisfeitas.

Para além da preocupação com a habitação e os espaços comunitários, medidas de assistência no domicílio ou programas de natureza social que considerem as progressivas limitações funcionais dos indivíduos são importantes para reforçar a autonomia e a independência. É necessário conjugar respostas adequadas em diversos domínios de intervenção, respondendo aos desafios da população cada vez mais envelhecida.

O ageing in place pode ser visto como a opção mais vantajosa em termos de prestação de cuidados de saúde, podendo ser facilitada pela introdução de tecnologias que permitam monitorizar a segurança das pessoas e que promovam a comunicação e o envolvimento social.

Contudo, o ageing in place pode não deve ser a solução adotada para pessoas idosas que estejam isoladas ou para aquelas que vivem em ambientes inseguros e degradados. Por vezes, corre-se o risco de encarar o ageing in place como uma solução para reduzir custos assistenciais, quando em idades mais avançadas surge a incapacidade funcional, o sucesso da adoção de uma política de envelhecimento em casa requer a existência de familiares ou de cuidadores que permitam à pessoa idosa ser acompanhada para assegurar o seu bem-estar, ou até mesmo a sua sobrevivência. 

No 2º Fórum Global da Organização Mundial da Saúde sobre Inovação para Populações Envelhecidas (WHO, 2015), são identificadas as cinco principais áreas de intervenção no processo de ageing in place: pessoas, lugares, produtos, serviços personalizados, políticas de apoio social (no original, the 5 P’sPeople, Place, Products, Person-centered services, Policy). 

Para terem sucesso, estas diferentes áreas necessitam estar sustentadas em políticas de envelhecimento baseadas em evidências, em iniciativas multissectoriais coordenadas e com um horizonte de sustentabilidade, e em orçamentos alocados aos diversos atores sociopolíticos responsáveis pela sua implementação.

Uma vida autônoma exige ajustamentos sucessivos à medida que as necessidades individuais e o contexto mudam. 

Há situações em que permanecer em casa corresponde efetivamente a um envelhecimento mais satisfatório, sobretudo quando a vida independente garante privacidade e permite a continuidade do controle sobre a vida pessoal (Philips, Ajrouch & Hillcoat-Nallétamby, 2010), mas em outras situações permanecer em casa não é sinônimo de qualidade de vida, isso quando os indivíduos estão confinados a um ambiente inapropriado, situação que pode ter efeitos contraproducentes como isolamento, solidão e desconexão com o ambiente social envolvente (Kohli, Künemund & Zähle, 2005). 

Portanto, o melhor lugar para se envelhecer será, fundamentalmente, aquele que proporcionar a relação mais adequada e favorável entre a pessoa idosa e o contexto que a rodeia. 

Ana Carolina Almeida – Terapeuta ocupacional, mestranda em Gerontologia Social, Assessora de projetos da AME

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